sábado, 26 de fevereiro de 2011

Believe it or not......it's cancer!

Até então, só quem sabia da minha internação era minha mãe, irmãos e a Martha e a Paula ( com quem eu iria pra NY).
Na noite em que fui internada, os médicos vieram falar comigo, estavam em 2 : Dr Francisco, assistente ( dono de um linguajar médico invejável pra quem entende sua língua!) e o Dr. Antonio (responsável pela área de gastro do hospital).
O Dr. Francisco veio com seu discurso do qual (eu que nem sei até hoje o que the heck é mitocôndrias) só aproveitei o "vamos ver se espalhou". Sim, e isso pq em momento algum ele usou a palavra tumor ou câncer. Mas convenhamos, esse espalhou não é referente à gripe, né?? Quando eles saíram do quarto, disse pra minha mãe, que dormiria comigo aquela noite: "Não vai sair coisa boa daí , temos que esperar pelo pior". E a coitadinha disse: " É, não deu pra ficar muito animada". Se aquela noite pegar no sono foi difícil pra mim, imagino pra ela. Eu sou a pessoa mais feliz do mundo pq quando entendi que o que ele tinha dito era que eu estava com câncer, pensei "ainda bem que é comigo, e não com uma das minhas filhas"!

O dia seguinte foi desgastante. Tenho um problema sério com me sentir presa. ODEIO. Simple as that. E era dia de fazer a Ressoñância Magnética, aquele exame tranquilo no qual te enfiam num sarcófago e te pedem pra ter calma. Come on!!!! Calma??? Respira fundo?? Com que ar??? O enfermeiro ainda me deu um headfone (que deve ter sido o 1o. fabricado no planeta Terra) pra usar e que parecia que tava me sufocando!! Eu fiquei lá dentro 1hora. A mais longa da minha vida. Fiquei de olhos fechados o tempo todo, só pisquei pra ver a (ha ha ha) altura do teto.Cheguei num ponto em que comecei a chorar de desepero mesmo, e eles colocaram Elton John pra ouvir. Não sabia que a finalidade do exame era me matar de desespero, mas naquele minuto entendi isso perfeitamente bem. Mas tudo bem, pelo menos era alguém lá dentrocomigo , nem que fosse o Elton! Aí o pobre enfermeiro, Erasmo, me pede pra (ha ha ha) levantar o braço pra aplicar o contraste (aquele líquido maravilhoso que faz vc se sentir assando por dentro). Levantar o que??? Quase entalo naquele túnel do mal!!! Quando senti meu cotovelo no "teto" surtei : "Moço eu vou entalar aqui, não vou sair nunca mias buááááá"  ....corajoooosaa.
Ele percebendo meu pavor, entrou no tubo, aplicou o contraste e ficou lá comigo, do lado de fora claro, nem uma mosca caberia naquele cubículo. Quando saí, tive uma crise de choro....choro de desespero, de medo, de angústia, de não saber quem seria eu depois daquele resultado. Tive que voltar assim que cheguei no quarto pra mais 15 minutos de tortura, mas dessa vez pedi pra me deixarem com o Elton.

À noite os médicos voltaram com o resultado do exame, a Jessica estava comigo. Lá vem o Dr. Francisco com seu linguajar médico, do que eu entendi perfeitamente: é um tumor maligno, vamos ver se não tem metátase. Quando ele acabou, olhei pro Dr. Antonio, que não me olhava, ficava quieto e sério; perguntei: "Então eu tô com câncer no fígado e agora vamos ver se não espalhou pra outro lugar??" Ele me olhou nos olhos e disse "é isso mesmo" , e aí eu entendi que doía pra ele como doía pra mim.

Não podia desabar, minha filha tinha recebido a notícia comigo, precisava do meu amparo. Ela se deseperou, não conseguia me olhar direito, o mundo tinha caído no chão e ela estava em meio aqueles pedacinhos sem saber como reagir. Não me ouvia,abanava as mãos como se estivesse espantando uma abelha que teimava em zumbir na sua orelha, pedia pra eu chamar a Stéphanie, minha filha mais velha que estava trabalhando em Ilhabela, acompanhando tudo à distância desde que entrei no hospital. Liguei pra ela e logo perguntei com quem estava, ela precisaria de alguém quando desligasse o telefone. Ela chorou com  a mão na boca, tentando se controlar pra me dar força , tentando tirar de dentro dela o que não tinha naquele momento. Não me lembro de ter passado por nada mais difícil do que ter que dar essa notícia pras minhas meninas, nem quando contei a eles que meu Pai tinha morrido.
Nessa noite rezei muito e pedi a Ele que ficasse com elas, não as desamparasse e as colocasse em seu colo. No dia seguinte, depois de terem conversado entre si, passado a noite cercada de amigos, uma deu força pra outra e as 2 me deram toda força do mundo e que era tudo o que eu precisava.......porque believe it or not, it's cancer! E nada vai mudar isso.

Um comentário:

  1. Me lembro de nossas reuniões diurnas para estudarmos...rsrsss!! Éramos eu, Silvia, Zuleica, Sofia, Tuca, e me perdoem se esqueci de alguém! Estávamos no auge da adolecência, sonhavamos, e filosofavámos como se soubemos tudo a respeito de vida...e sabíamos!! quem disse que não! Mas eramos movidas a muito amor a e muita sinceridade, falávamos o que não achavamos certo quando sentíamos que alguma de nós estava pisando na bola...com alguém, com a vida, saudades das discussões e verdades ditas olho no olho. Mas nada disso nos afastava...erámos um time, cada uma tinha seu modo de ver a vida, e respeitávamos essas diferenças...mas quando uma de nós deixava a ética de lado, éramos alertadas por alguma do time!! A Silvia sempre foi a big mother, fiel as suas éticas, com um coração maior que ela...não aguentava ver nada errado, e mesmo dando o toque de maneira clara e objetiva, cada palavra tinha sua dose de amor. Lela...falar da Lela é falar de bom senso, de paciência, de respeito...sempre linda e charmosa, o que mais me chamava a atenção era sua simplicidade...quem diria que era uma menina rica, que morava numa big mansão! Poucos sabiam, e ela fazia questão de ser amada pelo que era e não pelo que tinha...eu nunca tinha conhecido alguém assim!! Sempre com seu jeans desbotado e suas camisetas hipongas...patricinha passava longe dela, sempre foi essa pessoa linda, simples e verdadeira...arriscava perder a amizade, mas falava o que pensava sim! Zuleica...Tuca...Sofia...todas lindas e amadas!!
    Conheço a força dessa linda Lela, linda por dentro, mais ainda por fora...talvez nunca tivesse tido a consciencia de sua beleza! Forte...fiel as suas verdades, enfrentou sua familia por amor!! E agora mais um desafio amiga! Mas te conheço...minutos de medo e horas de coragem...contar é fácil num blog, vivenciar é difícil...mas ela esta enfrentando exatamente como descreve acima, sábia...valente...paciente...essa é a sua quimio Lela, e seu antídoto contra essas células revoltadas que logo sairão de você. Estágio 4 para os médicos, e para nós amigas...estágio 1...Deus já te curou, tome posse dessa benção, porque você merece.
    E quem tem uma Silvia do lado, não desanima jamais!! Viva nós!!! Somos um time ainda...e seremos por muito tempo ainda.
    Te amo amiga, e não sou a única...

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