segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A vida muda em 5 minutos

Nossos pais são nossa primeira referência de mundo: eles nos dão amor, carinho e força, deles recebemos educação, orientação e limites. Estar sem os pais, é como descer uma escada estreita sem corrimão de nenhum dos lados.
É como estou hoje, sem Pai, nem Mãe.

Enquanto terminava semana passada de escrever meu último post, meu irmão Alex, levava minha Mãe ao médico e depois ao Incor para outra cardioversão (choque dado no tórax para que os batimentos cardíacos voltem ao ritmo correto). Ele não me deixou ir junto, disse que eu não tenho nada que ficar indo em hospital. Nem tive o que retrucar, ia começar a nova quimio na 4af. e precisava estar bem. Fomos nos falando pelo celular.
A 1a. cardioversão não deu certo, ela entrou com os batimentos em 130, e precisava estar por volta de 60 pra poder sair. Ele me ligou dizendo que ela teria que dormir no hospital e que no dia seguinte, eles refariam o procedimento. Dessa vez deu certo!
E lá foi ela de volta pra sua casa, já que não quis ficar na casa de nenhum de nós dois.

Liguei algumas vezes pra ela durante o dia, estava ótima! Fiquei de ir vê-la às 16hs.
Quando cheguei ela estava bem, animada, comeu meu pão de queijo, tomou minha água tônica fazendo careta e conversamos normalmente. Tinha que pegar a Stéphie no trabalho ás 18hs, então resolvi sair às 17h30, afinal o trãnsito do Itaim é terrível.
Quando vi que já tinha dado minha hora, resolvi ficar mais 5 minutos.

E assim quando deu 17h35, me levantei e falei que tinha que ir embora. Ela se levantou e toda serelepe me contou que no dia seguinte tinha bingo no Clube Armênio e que as amigas da Cruz Vermelha, organizadora do evento a estavam esperando. Agora relembrando acho que foi bem inteligente da parte dela me falar isso na hora de eu ir embora,dei a maior bronca:
- Como assim Mãe, que história é essa de ir no bingo, vc acabou de sair do Incor e vai pra Bingo??
Ela me disse que as amigas a estavam esperando e não poderia faltar.
Como no dia seguinte eu ia pra quimio no mesmo horário, não poderia levá-la (o que pra mim seria uma tortura, mas o que não se faz por uma Mãe?!). Aí comecei:
- Bom, então vc vai ficar sentadinha, quieta e vai falar pras suas amigas que vc está dodói e que...

Ela caiu. Naquele segundo em que percebi o que estava acontecendo fiquei sem saber direito o que fazer. Gritava chamando por ela, pedindo pra que acordasse. Tirei o celular do bolso e liguei pro Alex: "A mamãe desmaiou, liga pro dr.Pedro".

Muito rapidamente ela acordou, soube depois que isso foi uma síncope cardíaca. Quando disse que ela tinha desmaiado, ela não acreditou, disse te sentido uma tontura forte e só. Nisso o Alex me liga: "Lela, tenho que levá-la pro Incor, é grave".

Quando anunciei que ela teria que voltar pro hospital do qual saiu de manhã, ela ficou tristinha. Mas eu disse que precisávamos saber o que estava acontecendo afinal, porque ela não tinha mais idade pra desmaiar que nem Cinderela! Rimos. Ela tirou o pijama, peguei sua roupa, ela foi falando e andando sozinha. Ainda pedi um pijama dela pra levar pra casa, caso depois ela precisasse ficar com alguém.
Deixei ela com o Alex, ele perguntou o que deveria fazer se ela desmaiasse e ela disse que gritar que nem eu fiz e chamar por ela; ele deitou o banco um pouco caso isso acontecesse.
No caminho pro trabalho da Sté, liguei pra dizer que ela bateu a cabeça ao cair no chão. Foi aí que comecei a ouvir: Mãe, acorda, acorda Mãe!

Ela estava tendo uma parada cardiorespiratória no carro do Alex , indo do Itaim pro Incor às 18hs. Foram os 3 minutos mais longos da minha vida, eu rezava e pedia à Deus pra ajudar meu irmão. Quando ele lembrou, desligou o celular. Da 9 de julho até o Incor, ele foi fazendo massagem no coração dela e falando com a soldado Katia, do 190 que não conseguiu um carro pra ajudá-lo a chegar, mas que o ajudou durante o trajeto. Eram só os 3 naquele tormento.

Deixei o carro com a Stéphie,já tinha ligado pra Jessie sair também. Expliquei o que estava acontecendo e fui de táxi pro Incor. Quando vi o Alex, confirmei a gravidade da situação.
Depois de um bom tempo, os médicos vieram nos dar o diagnóstico: por ter ficado muito tempo sem oxigenação no cérebro, ela corria o risco de ter sequela neurológica. Esse era o maior problema,o coração estava fraco, mas em segundo plano, as próximas 24hs seriam definitivas, o quadro era gravíssimo. Ela iria pra UTI assim que vagasse um leito.

No dia seguinte de manhã os médicos nos chamaram pra dizer que a pressão tinha caído muito durante a noite e que fígado e rins estavam em falência. A visita pra família estava liberada.
Pra bom entendedor....

Naquela tarde fui à quimio, foi tudo ótimo, fiquei feliz.
No dia seguinte de manhã, eu e as meninas acordamos com a sensação de que ela queria se despedir.

Nessa mesma manhã, o pai da Bia e da Sofia, que lutava desde janeiro pra receber uma medula e que foi recentemente diagnosticado com leucemia,partiu.A Stéphie ficou entre 2 hospitais, mas teve tempo de se despedir da avó, elas eram muito ligadas. Todos tiveram, meus irmãos, minha cunhada, os irmãos dela. A noite ela teve outra parada e não voltou.

Saber que vc precisa deixar sua Mãe partir e que esse é o melhor e que vc concorda é uma coisa. Ouvir que isso já aconteceu, é outra.

Falei pro Alex que ia pro hospital com ele, mas ele não deixou, eu estava muito cansada nesse dia,muito. Quando ele começou a falar que eu tinha que descansar, que não tinha o que fazer agora comecei a chorar, meu irmão é um tremendo apoio pra mim e saber que ele ia estar sozinho acabou mais ainda comigo. Comecei a chorar.

Não quis falar com ninguém, precisava digerir aquilo. Pedi pra Stéphie voltar pra casa enquanto a Jessie ligava pros meus amigos pra avisar. Precisava de espaço, de força e de chorar. Não por ela, que agora está feliz com meu Pai, mas por mim, por esse buraco que ela deixou e que não vai fechar nunca.

Agradeço aos meus amigos que não me abandonaram nem um minuto, aos das meninas,e aos do meu irmão por terem nos mostrado porquê amigos são a família que a gente escolhe.

Agradeço às minhas filhas, que foram maduras, serenas, e me deram mais apoio do que eu precisava, que cuidaram de mim com tanto amor e segurança, que me deu a certeza de que cada briga que tivemos, fez efeito! Tenho muito orgulho de vcs, filhinhas!

Agradeço à minha família, que eu amo e que me dá a certeza da continuidade.

Um dia voltando do Incor, falei pro Alex que ele tinha sido escolhido a dedo lá em cima, já que levou meu Pai e minha Mãe entre a vida e a morte pro hospital. Ele olhou pra mim , levantou o dedo do meio e disse com seu humor sarcástico e divertido: "É, com esse aqui que eu fui escolhido, ó!!"

Rimos muito, e eu disse a ele:"Quantos pais podem ter ao seu lado,num momento difícil como esse a pessoa em quem eles mais confiam no mundo, e que eles sabem que vai fazer tudo pra que eles fiquem bem?? Que nossos filhos possam fazer isso um dia por nós!"

P.S.:Manda um beijo pro Papai, Mãe, eu vou sentir sua falta!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Saída estratégica

Esse último mês foi marcado por incertezas, fiquei muito insegura.
Com as recusas dos meus 2 planos de saúde (agora tenho um excelente pelo meu trabalho) aos pedidos de medicação da Dra F, fiquei sem saber pra que lado correr.

E como sempre nessas horas, fui pro Ricky, meu amigo médico, ponto de apoio absoluto nesse processo. Conversamos, contei tudo o que havia acontecido, falei sobre o empréstimo do Xeloda (quimioterápico via oral que tomei por 14 dias, 3.500mg por dia),e sobre o fato da Dra F ter pedido medicamentos diferentes pros 2 planos; pelo menos foi o que entendi. Um deles inclusive me ligou pra falar o porquê da recusa - "a Sra pode comprar enquanto pessoa física".
Pensei com os meus botões: Então quer dizer que se eu entrar na farmácia e tirar 2mil reais, levo o remédio pra casa?!
Quase...ele não está à venda em farmácia, só em distribuidoras, às quais eu tenho pleno acesso!!!

O Ricky me obrigou a marcar uma consulta com o Dr. Jorge Sabbaga e lá fui eu e a Paula, ao encontro do fofo do médico munida dos meus últimos exames, de todas as minhas dúvidas e desconfortos. A conversa foi uma delícia, ele é o tipo de médico que vc quer ir sempre ( eu odiava ir ao médico), eu disse a ele que se não fosse pela minha conta bancária, ele seria o escolhido! E ele, muito simpático: "Valéria, eu estou à sua disposição!"
I wish...quem me dera!!

Uma coisa que me deixou meio cabrera na Dra F. além dela ter pedido 2 remédios diferentes, foi o fato de que ela me disse que depois de tomar o Xeloda, voltaria lá pra uma consulta e ela ia ver "o que EU ia fazer".

Caro leitor, eu sou formada em Jornalismo, tenho conhecimentos variados, mas nenhum deles chega perto de dotes oncológicos.

What in the world I would do?? (O que caramba eu vou fazer??)

Confesso que me senti jogada às traças, um produto de última qualidade que está atrapalhando o andamento das coisas, uma paciente tão encardida quanto meu tumor!!

Se os 2 planos não tinham autorizado o tratamento, se o Dr. Jorge daria um outro medicamento e se ela se mostrou insegura em continuar o tratamento comigo, porquê raios eu continuaria me tratando com ela??
E de repente,como num passe de mágica, eu perguntei:
"Aqui tem médico do meu novo plano de saúde?"
E ele: "Claro que tem!!"

E foi assim que decidi mudar de médico, de clínica e de vida. Há tempos a Silvia (diretora financeira) me dizia que eu tinha que mudar de médico, a Sofia (minha amiga e dona da empresa) logo no começo veio com essa sugestão e eu sempre fui contra, pois afinal, foi o Dr Jorge quem escolheu a médica.

Mas agora, o médico era da clínica dele, me senti muito segura e confiante. Marquei a consulta pra 6af passada e fui sozinha, não queria ninguém comigo porque queria deixar claro pra ele que tipo de paciente eu sou.

Assim que sentei na frente dele, ele me disse que já havia falado com o Dr. Jorge sobre meu caso,abriu o histórico do próprio desde a minha 1a. consulta em fevereiro e quis saber mais sobre mim. Ouviu atentamente, falou tudo com calma, me deu todas as explicações possíveis, fez com que eu me sentisse segura, e confiante.

Expliquei que meu maior incômodo era ir à médica e não poder perguntar, já que ela se incomodava quando eu ou quem estava comigo fazia perguntas; disse que tenho direito à informação, não quero saber detalhes técnicos, mas quero saber tudo, do oi ao tchau, em linhas gerais. Mesmo porque esse é o médico que vai me tratar, literalmente, pro resto da minha vida! Disse que prefiro a pior verdade à melhor mentira.

Meu caso é grave desde janeiro, o tumor está em todo fígado, não é caso cirúrgico ou de transplante, não tem cura, o câncer está avançado. Mas eu estou aqui, lutando, feliz, me sentindo forte, confiante e firme de que mesmo que pra medicina eu seja um caso perdido, pra Deus eu não sou. E vai que Ele resolva operar um milagre e lembre de mim?! Tenho que estar a postos!!

Enquanto eu falava,um lado do meu cérebro tentava imaginar quando ele ia me mandar embora, como minha médica anterior, que nem me dava tempo pra nada....sério, eu me sentia uma bomba relógio!!

Ele me examinou, leu meus exames, e disse que agora vamos fazer uma quimio similar aquela via oral, mas que vai ser ministrada ao longo de 6 semanas, (vou à clínica uma vez por semana para a aplicação)e depois interrompida por 2 semanas. Esse será meu novo ciclo. Vamos fazer consultas a cada 3 semanas, exames de sangue e depois de um tempo um exame de imagem. Ele quis uma tomo do meu pulmão, tenho uma tosse desde que saí do hospital que não melhora e que meu homeopata diz ser alérgica (não duvido, agora sou cheia de novidades clínicas!!!). A Dra F nunca se interessou por ela!

Começo a quimio dia 24/08, agora sou paciente do Dr. Guilherme Pereira, um médico que olha pro doente e não só pra doença. Que me atendeu com atenção,calma, carinho e consideração, e que ao final da consulta se recostou na cadeira e disse:
Pronto Valéria, agora me diz o que vc quer saber

Olhei pra ele, embasbacada com aquele médico e respondi que nada, não tinha sobrado nada pra perguntar... a não ser de que nuvem ele caiu!!

Agora quer saber a maior?? Além de tudo ele é um homem muito bonito!!

Acho que vou começar a cobrar ingresso pras minhas acompanhantes, porque se antes na mocréia já ia a a torcida do Corinthians, imagina agora!!!