sexta-feira, 4 de março de 2011

Uma a menos

De quantas??

Nooo fucking idea, lembra que a dra F.(não vou divulgar o nome dela, porque ela é boa no que faz,não deixei uma boa imagem dela,she is not my style!) não sabe por quanto tempo vou brincar disso??

A Pamela (minha 3a. filha, do coração) resolveu que tinha que me levar: "Quero ir tim(ela me chama de tim, don't ask!) é importante pra mim"...então tá, vamos passear com a titia!!

Pausa pra uma adequação de vocabulário: Kids, friends of my kids and my friends: Eu não sou sua tia, não precisa me chamar de tia, eu sou tia dela e de mais uns 7, esses sobrinhos de sangue e de coração...got it?! Pode me chamar de Lela mesmo que eu atendo!!Não me ofende, de forma alguma, eu aliás, adoro! E se sua mae reclamar, manda ela falar comigo!

E lá fomos nós pela manhã junto com a Jessie, que aproveitou a prima indo comigo. Sentei ao lado de uma moça de 29 anos com câncer de mama, ela estava muito nervosa, falava mais que a boca, era a 1a.vez (e sabe, a 1a. vez a gente nunca esquece!). No começo puxei papo, ela ia acabar falando comigo, estávamos sozinhas daquele lado da sala( acho que eles me colocm naquele lado de propósito, pra me fazer confraternizar com as pessoas). Mas ela começou a me perguntar porque doía o líquido; o dela é vermelho, o meu é branco, e não dói. Ela só vai poder ter filhos em 5 anos, quando dizem que se as bolinhas assassinas não voltaram, é porque vc está curada. 5 anos. Ela chamava os enfermeiros a cada saquinho de soro que terminava esperando angustiada aquilo tudo acabar. A mãe entrou uma só vez na sala e saiu, sem voltar; quando acabou ela se despediu de mim desejando um bom carnaval. Como ia ser o dela?...Deus a ajude, nem pra todo mundo isso é descomplicado.

Enquanto estávamos lá, veio uma moça de 35 anos que teve no intestino e agora está curada (5 anos), só ia pra fazer uma coisinha na veia, que eu não entendi, nem quis saber, ela era positica e tinha fé, falava dela. Ela passou umas informações sobre como a veia fica. Não queria saber, como diz a Tey: "Too much information".

Sério, ser meio burra algumas vezes não mata ninguém, repare.
Quando eu estava grávida da Stéphie, não me interessei em como ia ser o parto. Mais uma vez a imagem hollywoodiana era minha referência: Mulheres gritando, se rasgando inteiras pra ter um bebê, sangue por todos os lados, tesoura pra cortar cordão....creeeeeeedo!! Deixa ela aí dentro mesmo, eu tiro com uns 21!! De novo, too much information, não quero saber detalhes técnicos,posso?!

Aliás, vamos combinar que eu sou contra compartilhar mazela. Acho que minhas mazelas são minhas, e se puder, faço sempre piada de todas, porque só rindo mesmo eu me alivio! Não estou negando nada, estou transmutando uma coisa que não é legal de uma forma que me faz bem, e sorry, mas eu posso não caber na sua expectativa padronizada de que quem tem câncer tem que trazer a tristeza estampada nos olhos, mas what you see is what you get, eu sou assim.

Quantas vezes vc parou de chorar e se sentiu leve, feliz, aliviada, pronta pra outra, e acima de tudo reenergizada?
E quantas vezes vc rolou de rir até chorar e se sentiu leve, feliz, aliviada, e de verdade, pronta pra outra e reenergizada?? O que é melhor pra vc??

Pra mim é rir, sempre que puder. Como diz Frejat: "E que você descubra que rir é bom,mas que rir de tudo é desespero". Não se preocupe, eu não estou negando o câncer, é dentro de mim que ele existe, como eu vou conseguir negar? Não é isso, é só um jeito fora da caixa, de ver o que pra todo mundo é uma tragédia, um fim, e que pra mim é só mais um problema pra resolver. Simple as that, não gosto de complicar, não sou encrenqueira!

Mas sabe, essa coisa de compartilhar mazela não é minha praia, desculpe, mas nesse momento da minha vida, decidi ser meio egoísta, o que é muito difícil pra mim, pq eu sou o tipo de pessoa pra quem a sua dor vai ser maior que a minha. Eu não ia conseguir ajudar a moça, por isso resolvi me encolher no meu canto, depois que ela saiu.

Aí chegou um senhor janponês e se sentou do meu lado (ficaria tomando a medicação por 6hs). Ele estava acompanhado de outro da mesma idade, uns 75 anos e um cara, bonito, que falava com eles em inglês. Achei mais conveniente ouvir meu IPod (pq não tive essa idéia antes, na quiminha anterior com a amiga da fralda?!), pra deixá-lo à vontade, afinal japoneses tendem a ser discretos e são mestres em não confraternizar direito.
Mas aí, numa certa altura eu abri os olhos e na minha frente estava o velhinho amigo do Senhorzinho "TIRANDO FOTO DO AMIGO"

pausa pra vc rir: 1-2-3-4-5-6-7-8-9...posso voltar?

Só não vou te condenar porque eu comecei a rir e disfarcei tossindo, rezando a Deus pra que eles não percebessem!
Queria gritar: "Pára com isso, ele não está no Deixa que eu empurro, está fazendo quiminha, respeite o pobrezinho, seu velho louco!!
O que ele ia fazer com aquela foto? Mandar pra família em Tóquio???


Essa cena foi hilária, bizarra, degradante, e vai me acompanhar por muitos e muitos anos!

A Jessie e a Pammy faziam incursões na sala pra me ver, e acharam tudo tranquilo, descomplicado, simples.
É assim que eu quero que seja pra mim e pra todo mundo.
Afinal hoje foi uma a menos!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário