segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Resignação e Resiliência

Resignação - Sujeição paciente às amarguras da vida; conformação com a dor física ou moral; paciência no sofrimento.

Resiliência - Capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Conversando um dia com a Stéphie, descobri que ela está conseguindo superar a perda da avó de uma maneira muito mais tranquila do que imaginava. Ela sempre foi o xodozinho da vovó (e a Jessie do avô), chegamos ao cúmulo de em uma briga ela "fugir" pra casa da avó e morar com ela por quase 1 ano (helloou!!). Elas sempre foram muito ligadas,e eu temia que isso fosse afundá-la de vez.
Mas não foi o que aconteceu, o fato de não tê-la mais por perto ainda é muito triste, e sinceramente não acredito que isso passe completamente nem com tempo nem com chocolate. O buraco não muda de tamanho, não. Isso é fato!
Mas ela me disse que lembra da avó infeliz, sofrendo, com medo do que viria pela frente e sentir que hoje ela está em paz, lhe dá conforto e a deixa feliz. É assim pra mim, e pra Jessie!

Acho que no fundo as pessoas têm uma ideia muito distorcida de sofrimento. Aí o que acontece é que quando você não se enquadra no conceito do outro de dor, você é frio, distante ou calculista.

Eu sempre digo que economizo demais no quesito sofrimento. Não sou de ferro, também choro, me descompenso e fico sem chão. Mas não deixo de pensar durante o processo, e isso é o que faz a diferença.

Um amigo me disse que não sabe como estou me segurando com o câncer e a perda da minha Mãe. Eu respondi: mas eu não tenho o que fazer, é a minha vida! E é!
Eu passei por muita coisa, como muita gente passou e passa. Mas se tem uma coisa que eu me recuso a fazer é brigar com a vida. O que me acontece não necessariamente é obra do destino, do acaso ou de Deus. Faz parte da minha vida....ponto final.

Pra mim isso é ser resignada,o que não é acomodada. Algumas coisas a gente pode mudar e se for melhor tem mais é que batalhar pra isso acontecer, mas outras simplesmente não dá!
Por mais que você se descabele, fale com o Papa, mexa mundos e fundos, não dá! Então porque não aceitar e tentar lidar com aquilo da melhor maneira possível??

Dificilmente (pra não ser metida e dizer que vai ser impossível) você vai me ver jogada na cama aos berros, chorando dizendo que eu não mereço passar por isso ou por aquilo, que Deus está me castigando, que porque isso foi acontecer justo comigo (que sou uma santa, vc não percebeu???!).
Arghh!! Tô fora!! Não me faça confraternizar com pessoas nesse estado que eu não tenho saco (agora nem saúde)!!

O desgaste é maior, a dor fica mais intensa e o problema se mantém do mesmo tamanho quando você não consegue entender que tem que aceitar.

Porque será que as pessoas tem tanta resistência em aceitar o que a vida lhes traz de ruim?
Porque será que é mais fácil reclamar sempre do chefe, do ex marido, do namorado, do salário e da vida, do que tentar mudar ou simplesmente aceitar que aquilo é daquele jeito e não vai mudar?
Porque as pessoas tem tanta dificuldade em minimizar as tristezas e conviver com as perdas como parte da vida?

O mais engraçado é que quando conto pras pessoas o que me aconteceu nesses últimos 8 anos com calma e tranquilidade, elas se espantam e ficam achando que eu vim de outro planeta.
(Pra quem leu o post Escolhas, lá está um "Essa é sua vida" básico pra que fiquemos na mesma página. Quem não quiser ler também não precisa, mas saiba que foi um festival de tragédias!!).

Não vim de outro planeta, mas tenho sim um jeito diferente de aceitar o que me acontece e transformar isso da maneira mais fácil e leve pra que minha vida faça sentido.

(Aliás, queria deixar claro que o blog não é diário, não posto quando não tenho o que falar. Convenhamos que as pessoas já não tem tempo pra nada, estão fazendo a gentileza de ler isso aqui por puro amor à causa, não faço ninguém perder seu tempo se não for por um bom motivo!Não estranhem se eu demorar pra escrever, please! Quero que seu tempo aqui seja no mínimo interessante!Se eu não puder tocar a vida de quem me lê com um mínimo de conteúdo, esse blog pára de fazer sentido. Pronto, recado dado!!).


Conversando com a psicooncologista da Clínica de Combate ao Câncer,a fofa da Dra Fabíola, onde agora faço meu tratamento, soube que até 15 anos atrás as pessoas morriam ou se curavam do câncer. Aí começou a aparecer um grupo que teimava em não morrer e passou a viver com o câncer. São os pacientes crônicos. Tipo...EU!
O fato dela ter me enquadrado numa categoria me deixou tão feliz (tá pode rir, eu sei que é ridículo!!) que é como se eu tivesse sido admitida num clube e agora pertencia a ele. Claro que o Ricky já tinha me falado que minha doença era crônica, mas ele não falou nada sobre ter amiguinhos e pertencer a um time!!
Vai ser um saco fazer quimio pro resto da vida?? Só vai!! Mas eu vou viver com o câncer e ser feliz dentro do que eu conseguir!!
Na 6af uma amiga muito querida, a Sofia, se casou e completou 50 anos. Um casamento impecável, lindo e emocionante, um casal doce, amigo, companheiro que faz a gente pensar que o amor vale a pena!
Valeu cada segundo. Fiquei o sábado com febre e esfarelada, sem energia pra nada, e domingo a febre voltou! Vai ser minha vida daqui pra frente? Sei lá, mas não vou deixar de viver por nada!!

Nessas horas em que não brigo com a vida, mas tento ser o mais resignada possível e me manter resiliente aconteça o que acontecer, sei que não sou melhor que ninguém. Talvez meu grande diferencial (e isso pode ser aos olhos de muitos, boçal ou piegas) seja sentir e ter a certeza de que haja o que houver, tem alguém lá em cima cuidando de mim, alguém que sabe tudo o que eu vivi, e o que eu preciso viver pra ser uma pessoa melhor. Alguém que não sabe só um pedaço da minha vida, mas conhece todas as minhas vidas.

Meu Pai não era nada religioso, tinha fé e olhe lá. Pouco falava de Deus, mas um dia em seu escritório, vi um poema que já tinha lido e que era lindo. Ao perguntar ao S.Geraldo o que ele fazia embaixo do vidro da sua mesa, ele me respondeu: "Eu acredito nele".
Esse poema me acompanha até hoje, nas horas difíceis e nos momentos de dor, quando preciso trazer minha força à tona e quando me sinto frágil e desprotegida.

Enjoy ( aproveite!):

Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava andando na praia
com o Senhor, e no céu passavam cenas de minha vida.
Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares
de pegadas na areia: um era meu e o outro do Senhor.
Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás,
para as pegadas na areia, e notei que muitas vezes,
no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis
e angustiantes da minha vida.
Isso aborreceu-me deveras e perguntei então ao meu Senhor:
- Senhor, tu não me disseste que, tendo eu resolvido te seguir,
tu andarias sempre comigo,em todo o caminho?
Contudo, notei que durante as maiores tribulações do meu viver,
havia apenas um par de pegadas na areia.
Não compreendo por que nas horas em que eu mais necessitava de ti,
tu me deixaste sozinho.
O Senhor me respondeu:
- Meu querido filho, jamais te deixaria nas horas
de prova e de sofrimento.
Quando viste na areia,apenas um par de pegadas,
eram as minhas.
Foi exatamente aí, que te carreguei nos braços.

2 comentários:

  1. Você é uma mulher admirável, sabia? Claro que sabe... =D

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  2. Amiga....conheci uma mulher no Sírio que tinha um câncer há 15 anos! E fazia químio desde sempre! Ela estava ótima e disse que só tinha a agradecer! Vivia intensamente e aproveitava cada momento da vida! Um ser humano de luz! de verdade, ela brilhava! beijos e vamo que vamo!

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